"Não para viver com ele por cinco anos, como fizeste aqui, nem por 20, ou 100, nem por mil ou duas mil vezes aquele número, mas por todo o infinito e por séculos sem fim..."
Será que a morte traz um fim absoluto para o relacionamento entre marido e mulher, mesmo que eles tenham se amado fielmente? Será que nem mesmo no céu haverá tal reencontro feliz?
Conforme São João Crisóstomo, um dos santos mais respeitados na Igreja Ortodoxa, não há nada que temer. Quando o amor entre marido e mulher é verdadeiro e duradouro, nem mesmo a morte pode pará-lo.
O Senhor Jesus disse que na ressurreição, as pessoas "nem casam nem são dados em casamento". Alguns interpretaram essas palavras como se o relacionamento matrimonial terreno fosse completamente dissolvido ao entrarmos nos céus. Todavia, nesta mesma passagem, o Senhor disse que as pessoas serão "como os anjos de Deus".
Quais são as implicações de se ter seu casamento transformado em um relacionamento como o de anjos? John Clark é um escritor que oferece uma útil perspectiva:
Enquanto que o propósito primário do casamento, a multiplicação frutuosa, já não se aplica mais nos Céus, a resposta de nosso Senhor de forma alguma impede que a amizade do matrimônio permaneça. Se este for o caso, ela não permanecerá mais em seu estado caído e defeituoso; é agora como a dos anjos. Os anjos nos Céus possuem amizade: um amor e proximidade espiritual por todos que nasceram da presença de Deus, coisa que nós - homens na Terra - não podemos sequer conceber. Ela é também eterna. "Adeus" é uma palavra que não é pronunciada nos Céus.
O próprio São João Crisóstomo descreve como esse tipo de relacionamento celestial deve ser. Em sua Carta para uma Jovem Viúva, ele oferece grande esperança e encorajamento para uma mulher em luto por seu amado marido:
Pois tal é o poder do amor: ele envolve, une e liga não apenas os que estão presentes, próximos e visíveis, mas também aqueles que estão distantes; nem mesmo a distância no tempo, ou ainda a separação pelo espaço, ou coisa alguma deste tipo pode quebrar e estilhaçar o afeto da alma.
Contudo, se quiseres vê-lo face a face (pois sei que isto é o que tu realmente queres), então mantenha sua cama sagrada em sua honra, intocada por qualquer outro homem, e faça o melhor para manifestar uma vida como a dele. Desta forma, certamente deixará esta vida um dia para se unir a sua companhia, não para viver com ele por cinco anos, como fizeste aqui, nem por 20, ou 100, nem por mil ou duas mil vezes aquele número, mas por todo o infinito e por séculos sem fim.
São João Crisóstomo diz que na ressurreição seu marido será mais glorioso do que ela pode sequer imaginar:
Se mantiveres a mesma conduta de vida que a dele, então tu o receberás de volta, não mais naquela beleza corporal que possuía quando repousou, mas em um tipo distinto de brilho, com um esplendor que supera os raios do sol. Pois este corpo, ainda que alcances os mais altos padrões de beleza, ainda assim perece; mas os corpos daqueles que foram agradáveis a Deus, serão revestidos com tamanha glória que estes olhos não podem nem contemplar.
Deus nos muniu de certos signos e outras indicações obscuras sobre isso, tanto na Antiga quanto na Nova Dispensação. Pois naquela, a face de Moisés brilhou com tamanha glória que era intolerável aos olhos dos Israelitas; nesta, a face de Cristo brilhou com muito mais fulgor do que a dele.
São João continua seu discurso, exortando-a a aguardar pacientemente pela reunião celestial:
Diga-me: se alguém houvesse prometido tornar seu marido o rei sobre toda a terra, mas que então tivesse te ordenado a se afastar dele por vintes anos, tendo prometido reestabelecê-lo com a diadema e a púrpura, colocando-te no mesmo ranque com ele, não terias suportado mansamente a separação por meio do domínio próprio? Não te agradarias com a dádiva, considerando-a uma coisa digna de oração?
Pois bem, submeta-se a isso agora, não por um reino terreno, mas pelo reino dos Céus; não para recebê-lo de volta vestido em ouro, mas de imortalidade e glória, tal qual é própria daqueles que habitam nos Céus.
Se julgares a provação muito insuportável, em razão de sua longa duração, pode ser que ele te visite por meio de visões e converse contigo, como ele desejaria fazer, e mostrar-te aquela face pela qual tua anseia: que seja isso teu consolo ao invés das cartas, pois que é bem mais definido do que cartas. Pois nestas temos senão linhas traçadas com uma pena para observar, mas naquela podes ver o forma de seu semblante, seu sorriso gentil, sua imagem e movimento, ouves sua fala e reconhece a voz que tanto amaste.
Se ela está disposta a esperar pacientemente para ser reunida com seu marido depois de uma longa jornada terrena, então quanto mais ela não deve estar disposta a esperar por uma gloriosa reunião nos Céus!
As palavras de São João Crisóstomo são, certamente, um conforto para casais que vivem suas vidas em fidelidade e amor mútuo.
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