Raramente este Rito da Ortodoxia - que agora se realiza - acontece sem que haja censura ou reprovações da parte de alguém. E não importa quantos sermões sejam dados explicando que a Igreja aqui age sabiamente para a salvação de seus filhos, ainda assim os descontentes continuam apenas repetindo sua fala. Ou eles não ouvem os sermões, ou esses sermões não atingem a consciência, no que diz respeito às perplexidades destes últimos, ou talvez tenham formado sua própria concepção deste rito e não queiram abandoná-la, não importa o que lhes seja dito.
Para algumas pessoas nossos anátemas parecem desumanos, para outras, constrangedores. Tais acusações podem ser válidas em outras situações -dizem - mas não há como aplicá-las ao nosso Rito da Ortodoxia. Esclarecerei brevemente a vós por que a Igreja age assim, e penso que vós mesmos concordareis comigo que, ao fazer isso, a Igreja age sabiamente.
O que é a Santa Igreja? É uma sociedade de crentes, unida entre si por uma unidade de confissão de verdades divinamente reveladas, por uma unidade de santificação por Mistérios divinamente estabelecidos, e por uma unidade de governo e de condução por pastores dados por Deus. A unidade de confissão, santificação e administração constitui a regra desta sociedade, que é obrigatória para qualquer um que a ela se associe. A adesão a esta sociedade está condicionada à aceitação desta regra e à concordância com ela; a permanência nesta sociedade está condicionada ao seu cumprimento. Vejamos como a Santa Igreja cresceu e como ela continua a crescer. Os pregadores pregam. Alguns dos ouvintes não aceitam a pregação e partem; outros a aceitam e, como resultado da aceitação, são santificados pelos santos Mistérios, seguem a direção dos pastores, e assim são incorporados à santa Igreja - eles são feitos Cristãos. É assim que todos os membros da Igreja entram nela. Ao entrar nela, eles se misturam com todos os seus membros, estão unidos a eles, e permanecem na Igreja apenas enquanto continuarem a ser um com todos eles.
Por essa simples indicação de como a Igreja é formada, podeis ver que, como uma sociedade, a Santa Igreja veio a ser e continua a existir como qualquer outra sociedade. Por isso, considerai-a como qualquer outra [sociedade], e não a priveis dos direitos pertencentes a qualquer sociedade. Vejamos, por exemplo, uma sociedade de temperança. Ela tem regras que todo membro deve cumprir. E cada um de seus membros é membro precisamente porque aceita e obedece a suas regras. Suponhamos agora que algum membro não só se recusa a cumprir as regras, mas também tem muitas opiniões completamente opostas às da sociedade e até se levanta contra seu próprio objetivo. Ele não só não observa a temperança, como até mesmo repudia a própria temperança e dissemina noções que poderiam tentar os outros e desviá-los da temperança. O que a sociedade normalmente faz com tais pessoas? Primeiro os admoesta, depois os expulsa. Aí tendes o anátema! Ninguém protesta contra isso, ninguém censura a sociedade por ser desumana. Todos reconhecem que a sociedade está agindo de maneira perfeitamente legítima e que, se agisse de outra maneira, não poderia existir.
Que razão haveria, então, para reprovar a santa Igreja quando ela age da mesma maneira? Afinal de contas, um anátema é precisamente a separação da Igreja, ou a exclusão de seu meio daqueles que não cumprem as condições de unidade com ela e começam a pensar de maneira diferente da que ela faz, diferente da maneira como eles mesmos prometeram pensar ao se juntarem a ela. Lembrai-vos de como isso aconteceu! Apareceu Ário, que tinha opiniões impiedosas a respeito de Cristo Salvador, de modo que com essas noções ele distorceu o próprio ato de nossa salvação. O que foi feito com ele? Primeiro foi admoestado, e muitas vezes exortado por todos os meios persuasivos e comoventes possíveis. Mas como teimosamente insistiu em sua opinião, foi condenado e excomungado da Igreja, ou seja, expulso de nossa sociedade. Cuidado, não tenhais comunhão com ele e com pessoas como ele. Não tenhais essas opiniões e não escuteis nem recebais os que as têm. Assim fez a santa Igreja com Ário; assim ela fez com todos os outros hereges; e assim fará agora, também, se alguém aparecer em algum lugar com opiniões impiedosas. Dizei-me, então, o que aqui é censurável? O que mais poderia fazer a santa Igreja? E poderia ela continuar a existir se não empregasse tanto rigor e advertisse seus filhos com tanta solicitude sobre aqueles que poderiam corrompê-los e destruí-los?
Vejamos - que falsos ensinamentos e que falsos mestres são excomungados? Aqueles que negam a existência de Deus, a imortalidade da alma, a providência divina; aqueles que não confessam a Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, o Único Deus; aqueles que não reconhecem a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo e nossa redenção por Sua morte na cruz; aqueles que rejeitam a graça do Espírito Santo e os Mistérios divinos que a outorgam, e assim por diante. Vós vedes que tipo de questões eles tocam? Estas são questões que constituem a própria razão pela qual a santa Igreja é a Igreja, princípios sobre os quais ela se funda e sem os quais não poderia ser o que é. Portanto, aqueles que se levantam contra tais verdades são para a Igreja o mesmo que aqueles que se insurgem contra nossas vidas e nossos bens são para nós em nossa vida diária. Bandidos e ladrões, afinal de contas, não têm permissão para continuar livremente em nenhum lugar e ficar impunes! E quando são obrigados e entregues à lei e à punição, ninguém considera isso como desumano ou como uma violação da liberdade. Pelo contrário, as pessoas veem nisso mesmo um ato de amor ao homem e uma salvaguarda para a liberdade - no que diz respeito a todos os membros da sociedade. Se julgais aqui desta maneira, julgai assim também em relação à sociedade da Igreja. Esses falsos mestres, como ladrões e assaltantes, pilham os bens da santa Igreja e de Deus, corrompendo seus filhos e destruindo-os.
Será que a santa Igreja realmente erra ao julgá-los, ao amarrá-los e ao expulsá-los? E seria realmente amor ao homem se ela considerasse com indiferença as ações de tais pessoas e as deixasse em liberdade para destruir todos os demais? Será que uma mãe permitiria que uma cobra rastejasse livremente até o seu filhinho, que não compreende o perigo? Se alguma pessoa imoral tivesse acesso à vossa família e começasse a tentar vossa filha, ou vosso filho, vós poderíeis considerar suas ações e seus discursos com indiferença? Temendo adquirir a reputação de serdes desumanos e antiquados, ataríeis vossas próprias mãos? Antes não empurraríeis tal pessoa para fora da porta e a fecharíeis contra ele para sempre? Vós deveríeis contemplar as ações da santa Igreja da mesma maneira. Ela vê que indivíduos de mente corrupta aparecem, e corrompem outros, portanto ela se levanta contra eles, os afasta, e clama a todos aqueles que são seus: "Cuidado: tais e tais pessoas desejam destruir vossas almas. Não lhes deis ouvidos; fugi deles. Assim ela cumpre o dever do amor materno e, portanto, age com amor - ou, como dizeis, com humanidade.
No presente momento, temos uma proliferação de niilistas, espíritas e outros astutos perniciosos que se deixam levar pelos falsos mestres do Ocidente. Pensais realmente que nossa santa Igreja guardaria silêncio e não levantaria sua voz para condená-los e anatematizá-los, se seus ensinamentos destrutivos fossem algo novo? De modo algum. Um concílio seria reunido, e em concílio todos eles com seus ensinamentos seriam entregues ao anátema, e ao atual Rito da Ortodoxia seria anexado um item adicional: A Feyerbach, Buchner e Renan, aos espíritas e a todos os seus seguidores - aos niilistas - anátema. Mas não há necessidade de tal concílio, e também não há necessidade de tal acréscimo. Seus falsos ensinamentos já foram todos anatematizados antecipadamente nos pontos em que o anátema é pronunciado àqueles que negam a existência de Deus, a espiritualidade e a imortalidade da alma, os ensinamentos relativos à Santíssima Trindade e à divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Não vedes com que sabedoria e previdência a Santa Igreja age quando nos obriga a fazer a presente proclamação e a ouvi-la? E, no entanto, dizem: "Isto está ultrapassado". É precisamente agora que isto é relevante. Talvez há cem anos não fosse relevante. Mas é preciso dizer a respeito de nosso tempo, que se ainda não existisse um Rito da Ortodoxia, seria necessário criar um, e executá-lo não só nas capitais, mas em todos os lugares e em todas as igrejas: a fim de recolher todos os maus ensinamentos contrários à Palavra de Deus, e torná-los conhecidos de todos, para que todos saibam do que precisam tomar cuidado e que tipo de ensinamentos devem ser evitados. Muitos estão corrompidos na mente unicamente por ignorância, enquanto que uma condenação pública dos ensinamentos ruinosos os salvaria da perdição.
Assim, a Igreja excomunga, expulsa de seu meio (quando se diz: "Anátema para tal e tal", que significa a mesma coisa que, "Tal e tal: fora daqui"), ou anatematiza pela mesma razão que qualquer sociedade o faz. E ela é obrigada a fazer isso em autopreservação e a preservar seus filhos da destruição. Portanto, não há nada de censurável ou incompreensível sobre este Rito atual. Se alguém teme o ato do anátema, que evite os ensinamentos que fazem com que alguém caia sob ele. Se alguém teme por outros, que o restitua ao ensino sadio. Se sois Ortodoxos e, no entanto, não estais bem dispostos a este ato, então vos encontrais em contradição. Mas, se vós já abandonastes a sã doutrina, que é de vossa conta o que se faz na Igreja por aqueles que a mantêm? Pelo simples fato de terdes concebido uma visão das coisas diferente daquela que é mantida na Igreja, já vos separastes da Igreja. Não é a inscrição nos registros batismais que faz de alguém membro da Igreja, mas o espírito e o conteúdo das opiniões de cada um. Quer vosso ensino e nome sejam pronunciados como estando sob anátema ou não, vós já vos enquadrais nisso quando vossas opiniões se opõem às da Igreja, e quando persistis nelas. Terrível é o anátema. Deixai de lado suas más opiniões. Amém.
Fonte: orthodox.net (Inglês)
Gostaria de ver mais artigos como este? Nossa meta de arrecadação de fundos não foi ainda alcançada, e nós ficaríamos muitos gratos com sua ajuda.
É preciso uma equipe de tempo integral para manter este website, e nossos trabalhadores precisam prover para suas família. Uma doação recorrente de até mesmo R$50 ou R$100 por mês seria uma grande benção.