Artista Contemporâneo Devotado à Revolução Russa e um Destemido "Servo" do Czar (Paul Ryzhenko) [1]
Pinturas que contam a dramática história da Revolução, um conto de destruição e redenção
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Países à beira do desastre - natural, ou causado pelo homem - precisam lidar com questões sem fim acerca da memória. Com que cores e formas se pinta o trauma de uma nação? Há, porventura, esforços para lembrar-se ou esquecer-se da história que teimosamente ressurge no canvas da modernidade?
Pável Rijenko (1970-2014), um artista contemporâneo de várias vibrantes imagens de campos de batalha, monges e milagres [2], cria veementemente que o caminho para a redenção consiste em "ativar" a memória histórica de um povo.
Então, como é que nós, nos dias de hoje, poderemos transformar "sapiens" que comem sementes de girassol e usam drogas em cavaleiros? Muito simples: disponha da memória genética. Como fazer isso? Diga a verdade sobre o que aconteceu e fale: "Basta! Nem um passo sequer adiante. Nem um só passo para trás! Vamos nos recuperar".1
Por este fim, ele lutou para articular a narrativa mais difícil para si, a história que continua a assombrar a Rússia: a história da Revolução.
Era uma tema que ele não podia esgotar. Além de suas pinturas independentes dedicadas à Revolução, ele também criou inúmeras séries de pinturas sobre isso mais para o fim de sua breve vida.
Nelas, Rijenko aponta a lanterna sobre a negra tragédia de várias distintas narrativas: a das vítimas, dos perpetradores, dos que morreram e dos que sobreviveram, dos que emigraram e dos que permaneceram na Rússia.
Pelas mãos de Rijenko, a Revolução mescla-se no tecido da nação no nível individual; cada pessoa que ela toca experimenta uma dor única e excruciante... e a cada um é dado feixes de um caminho profundo e pessoal até a redenção.
O Gólgota do Czar: A Revolução pelos Olhos de um Monarca
O destino e a personalidade do último Czar, Nicolas II, assombraram Rijenko de forma singular. O artista respondeu visceralmente ao que ele cria ser a traição universal do Czar. Ele costumava dizer:
Eu não apenas manifesto exclusivamente uma cosmovisão monárquica, mas sirvo unicamente ao Soberano. Como poderia ser diferente? Eu vivo sem nunca trair o juramente de lealdade ao Imperador Nicolas Alexandrovich 2.
Em 2004, o artista viajou para Ecaterimburgo, para o túmulo da família Romanov, e decidiu criar uma série de pinturas dedicadas ao tema.
Foi assim que a série "O Gólgota do Czar" nasceu, consistindo de três pinturas. "Adeus à Guarda", "O Palácio de Alexandre. Aprisionamento" e "A Casa Ipatiev. A Execução".
"Adeus à Guarda"
No dia 8 de março de 1917, o Czar recém-abdicado veio dizer adeus aos seus soldados, os quais muito amava e confiava. Na pintura, todos eles usavam fitas vermelhas, demonstrando sua lealdade ao novo governo. Nenhum deles olhava o Czar nos olhos.
O historiador Robert Massie descreve a cena da seguinte maneira em Nicolas e Alessandra:
"Nicolas, aparecendo diante da sala cheia, agradeceu silenciosamente aos oficiais por sua lealdade, rogando-lhes que esquecessem todas as rixas e que conduzissem o exército e a Rússia à vitória. Sua modestia deixou uma vívida impressão; quando ele terminou, a sala irrompeu em altos aplausos e a maioria dos presentes choraram abertamente. Contudo, ninguém tentou persuadi-lo a mudar de opinião, ao que Nicolas prostrou-se silenciosamente e saiu..." 3
Poucas noites antes, ele havia escrito em seu diário que "em toda parte ao meu redor, eu vejo traição, covardia e engano". 4
"O Palácio de Alexandre. Aprisionamento". 2004
A segunda pintura revela o Czar em um ambiente íntimo e completamente humano. Um rei, abandonado e traído por sua própria nação, agora permanece em tristeza e isolação ao lado de sua esposa e à cama de seu filho enfermo.
"A Casa Ipatiev. A Execução". 2004Ironicamente, Rijenko decidiu não pintar o clímax dramático da família Romanov em seu estilo peculiar. Nem sangue, nem morte aparecem na cena; apenas objetos caídos em um desarranjo caótico indicam o momento da inefável brutalidade.
Arrependimento: A Revolução de um coração
A série intitulada Arrependimento conta a história da revolução através de lentes diferentes: daquela pessoa que uniu-se, voluntariamente ou não, a atual destruição.
1. "O Badalar dos Sinos"
Em meio à destruição de uma igreja, fazendo uso da torre dos sinos para lutar contra seus próprios conterrâneos, a imagem de um soldado do Exército Vermelho congela-se com um olhar abalado. Talvez ele tenha puxado acidentalmente as cordas e os sinos tocaram, lembrando-o da quietude da igreja e de sua infância.
A Grinalda (Série: Arrependimento, #2)
A segunda parte obviamente se dá alguns anos depois. O herói, agora grisalho e adornado com metais, esteve lutando uma Guerra Civil sangrenta contra seus próprios irmãos. Ela representa seu segundo momento de consideração: ele permanece diante da sepultura de ou sua mãe, ou esposa.
3. "O Formigueiro"
O último palco da narrativa Arrependimento de Rijenko apresenta o herói como um velho monge, em completo isolamento, mas em paz. Onde ele está, ninguém sabe, mas já não é importante. Ele está além do tempo; ele se "apaixonou pela ascensão". 5
O Herdeiro. Poderia ter sido diferente?
Esta série, intitulada "O Herdeiro", é dedicada ao único filho do Czar Nícolas II, Alexei. Nela, a lógica da narrativa mantida pelas outras séries se desfaz; somos apresentados, em vez disso, com imagens aparentemente desconectadas.
Este conjunto de três pinturas é chamado "O Herdeiro". Do outro lado da cerca temos a imagem de um jovem e radiante rapaz em um belo campo. A cercam todavia, cheia de inscrições obscenas, parece cerrar a possibilidade à uma realidade diferente, mais próxima.
À esquerda, um soldado Russo, empobrecido e em um país estrangeiro tenta oferecer sua prestigiosa insígnia Russa, a Cruz de São Jorge. À direita, um sacerdote encara um retrato, as baionetas já estão apontadas para ele, esperando por sua decisão.
Requiem: Cartão Postal dos que ficaram
Requiem 1.
Um servo empurra a cadeira de rodas de sua senhora através de sua propriedade, lendo para ela uma carta, em 1891.
"Requiem 2"
A mesma nobre permanece em sua cadeira de rodas no pórtico, seus dois filhos, de costas para a fachada, permanecem por perto. Um deles usa uma fita vermelha do Exército Vermelho, o outro usa o uniforme de um oficial "Branco"; eles não se olham. Sua mãe, também, não se volta para nenhum deles; ela não se volve para abençoar nenhum dos dois com o ícone em suas mãos.
"Requiem 3. "
Um dos filhos - já não se pode reconhecer de qual lado ele pertence, ou, talvez, ele já não quer fazer parte de nenhum dos lados - volta à propriedade erma e dizimada.
O Século Russo: Uma Nação no Exílio
Esta série acompanha a trajetória de um oficial do Exército Branco que, como muitos dos sobreviventes, emigrou para a Europa.
1. "Adeus às Dragonas Czaristas", 2007
Um oficial "branco" embrulha cuidadosamente suas dragonas, o último símbolo das forças do Czar, em um lenço com o monograma da Imperadora Alessandra. O exército já foi derrotado e seus membros agora deixam o país - a maior parte deles para sempre.
2. "Uma Fotografia para a Memória"A fotografia simbólica de uma nação que súbita e inexplicavelmente desapareceu na história (Veja a foto em um tamanho maior [3]).
"Páscoa em Paris" 2007 (Série: O Século Russo)Paris, um dos centros de emigração Russa. Os oficias do Exército Branco, agora trabalhadores da fábrica Renault, convidaram um sacerdote para sua humilde celebração Pascal. A pequena sala está cheia de reminiscências do passado, que contrastam diretamente com a parafernália da fábrica. Nostalgia e contrição - emoções que dominam muitas memórias do tempo - são palpáveis na sala.
Quanto às demais narrativas, estas pessoas comemorando a Páscoa agora em um país distante tomaram decisões - certas ou erradas - e participaram da Queda de um Império. Todavia, assim como todos, diante do caos e dos erros, eles retiveram o maior dom concedido à humanidade: o poder do arrependimento. Nas palavras do próprio artista:
A fim de responder à pergunta "como prosseguiremos?", eu ofereço os exemplos históricos. Este movimento não é para frente ou para trás, mas em direção à alma, para sua própria história..6
Para mais história fascinantes sobre a arte Russa, visite o blog do autor. [4]
1 https://www.pravmir.ru/ya-zahotel-pobezhat-za-hristom-pamyati-pavla-ryizhenko/ [5]
2 http://zavtra.ru/blogs/bogatyir-duha [6]
3 Massie, Robert. Nicholas and Alexandra (1967). pg 422-423
4 Massie, Robert. Nicholas and Alexandra (1967). pg 416
5 Vodolazkin, Eugene. Laurus (2015). pg 498
6 https://www.pravmir.ru/ya-zahotel-pobezhat-za-hristom-pamyati-pavla-ryizhenko/ [5]
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