A REBELIÃO DE CORÁ: Uma Igreja Sem Sacerdotes Não é uma Igreja [1]
Como o Novo Testamento deixa claro, a verdadeira Igreja de Cristo tem um sacerdócio sacramental. Qualquer que negue isso, adere à Rebelião de Corá...
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O verdadeiro Cristianismo é sacerdotal por natureza; além disso, ele sempre teve um sacerdócio definido e visível. Negar o sacerdócio é negar um componente elementar do Cristianismo.
"Espere", esta resposta vem de certos grupos, "nós todos somos sacerdotes para Deus, você não leu nas Escrituras: 'Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo [...] Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz' (1 Pedro 2:5-9)? Não há mais qualquer sacerdócio oficial", eles podem dizer, "agora existe o sacerdócio de todos os crentes".
Examinemos a seguinte reivindicação. São Pedro claramente faz uma referência do Antigo Testamento em que o Senhor Deus diz aos Hebreus: "Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos, porque toda a terra é minha. E vós me sereis um reino sacerdotal e o povo santo" (Êxodo 19:5). No Antigo Testamento, o Senhor chamou toda a nação Hebraica de sacerdotal, todavia, ao mesmo tempo, Ele estabeleceu uma ordem sacerdotal específica conforme a linhagem de Arão. Embora toda a nação compartilhasse de uma unção sacerdotal geral, apenas aqueles selecionados e separados pelo Senhor estavam encarregados de servir na plenitude da função sacerdotal diante do altar do tabernáculo (e, portanto, do Templo).
"Mas isso foi no Antigo Testamento!", nossos amigos podem objetar. "Jesus Cristo acabou com o sacerdócio do Antigo Testamento!". Muito bem, vamos examinar isso.
Na epístola de São Judas, ele adverte os Cristãos de três males ou heresias: "Estes, porém, dizem mal do que não sabem; e, naquilo que naturalmente conhecem, como animais irracionais se corrompem. Ai deles! porque entraram pelo caminho de Caim, e foram levados pelo engano do prêmio de Balaão, e pereceram na contradição de Corá" (10-11). São Judas faz referência a três eventos do Antigo Testamento, que descrevem espíritos de erro que tentaram se estabelecer na Igreja antiga (e continuam até o dia de hoje). Qualquer um pode consultar com facilidade o Antigo Testamento para um descrição desses erros. Para o tópico em questão, o último erro, a rebelião de Corá, é o mais pertinente.
O erro de Corá é narrado em Números, capítulo 16. "E Corá [...] e Datã e a Abirão [...] levantaram-se perante Moisés com duzentos e cinquenta homens dos filhos de Israel [...] e se congregaram contra Moisés e contra Arão, e lhes disseram: 'Basta-vos, pois que toda a congregação é santa, todos são santos, e o Senhor está no meio deles; por que, pois, vos elevais sobre a congregação do Senhor?'" (1-3). Percebam que eles estão parcialmente corretos. O Senhor disse em Êxodo que toda a nação era sacedotal e santa. Seu erro foi falhar em reconhecer o ofício especial do sacerdócio como foi instituído pelo Senhor. De fato, eles agressiva e voluntariamente desdenhavam dele. Eles reputavam para si algo que não pertencia a eles: o ofício ritual do sacerdócio. Seu argumento é o mesmo do que o de muitos grupos Protestantes hoje em dia. Continuemos nossa investigação.
Moisés, conforme o mandamento do Senhor, instruiu Corá e sua congregação a se achegarem diante do Tabernáculo com incenso, juntamente com Arão e os sacerdotes ordenados por Deus (cf. vv. 4-19). "O Senhor fará saber quem é Seu" (v. 5). Quando todos estavam reunidos, Moisés disse à congregação de Israel: "Desviai-vos, peço-vos, das tendas destes homens ímpios, e não toqueis nada do que é seu para que porventura não pereçais em todos os seus pecados. Subiram, pois, do derredor da habitação de Corá [...] E aconteceu que, acabando ele de falar todas estas palavras, a terra que estava debaixo deles se fendeu. E a terra abriu a sua boca, e os tragou [...] como também a todos os homens que pertenciam a Corá [...] e eles e tudo o que era seu desceram vivos ao abismo, e a terra os cobriu, e pereceram do meio da congregação [...] Por memorial para os filhos de Israel, que nenhum estranho, que não for da descendência de Arão, se chegue para acender incenso perante o Senhor; para que não seja como Corá e a sua congregação" (vv. 25, 31-33, 40).
Em resumo, a rebelião de Corá é a rejeição de um sacerdócio oficial, sacramental e ordenado por Deus. Somos advertidos disso tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. O fruto da rebelião de Corá é assustador, ele e todos os que estavam com ele pereceram. A descrição de São Judas daqueles que abraçaram o espírito da rebelião de Corá é igualmente assustadora: "Estes são manchas [...] são nuvens sem água, levadas pelos ventos de uma para outra parte; são como árvores murchas, infrutíferas, duas vezes mortas, desarraigadas [...] para os quais está eternamente reservada a negrura das trevas" (12-13).
No Novo Testamento, Cristo é o novo Sumo Sacerdote. Em Sua pessoa se dá a perfeição do sacerdócio. O sacerdócio Araônico foi somente uma sombra do verdadeiro e supremo sacerdócio de Jesus Cristo. As Escrituras testificam que Cristo, o Senhor, é um sacerdote eternamente (cf. Hebreus 7:17, 21). Ele "tem um sacerdócio perpétuo, porque permanece eternamente" (Hebreus 7:24). Ele é descrito claramente desempenhando funções sacerdotais nos céus, Ele é o "ministro do santuário" (Hebreus 8:2). A Igreja Cristã desde sempre entendeu que o Senhor Jesus é a fonte, a fundação e a origem do sacerdócio do Novo Testamento. São João de Kronstadt resume o ensinamento: "Cristo é o único Sumo Sacerdote, o Primeiro e o Último [...] Ele mesmo desempenha os deveres de um sacerdote em nós e através de nós [os sacerdotes] [...] O meu sacerdócio e o de todos os outros é o sacerdócio de Cristo: o verdadeiro sumo sacerdote é apenas Cristo; Ele mesmo ministra através de nós, Ele é o sacerdote eterno conforme a ordem de Melquisedeque". O sacerdote participa pela graça no mesmo Sacerdócio do próprio Cristo. A pessoa do sacerdote é um ícone de Cristo. Ele participa do ministério celestial de Cristo, o Senhor, tornando-o presente de um modo tangível na terra através do Corpo Uno, da Igreja do Deus Vivo.
Nas epístolas a Timóteo e a Tito, a palavra Presbyteros é utilizada. Em Tito 1:5, São Paulo diz a Tito (um Bispo), de que ele foi deixado em Creta para "ordenar presbíteros/sacerdotes". Na maioria das traduções, Presbyteros é traduzido como "ancião", que é uma pequena porção do significado. O Cristianismo tem, desde o princípio, usado esta palavra para descrever sacerdotes. Em Atos está escrito: "os apóstolos e os sacerdotes (presbíteros)" (cf. 15:23; 16:4). Os Apóstolos foram munidos da autoridade para ordenarem sacerdotes. Já não se trata mais de linhagem sanguínea, mas de autoridade apostólica de Cristo, o Senhor. A Igreja, fiel aos caminhos da adoração e do ensino ortodoxos, seleciona alguns homens para servirem como sacerdotes. Ela recebeu essa graça de Deus. São Paulo faz menção de altares Cristãos quando diz: "Temos um altar, de que não têm direito de comer os que servem ao tabernáculo" (Hebreus 13:10). Um altar está sempre ligado ao serviço sacerdotal.
Santo Inácio de Antioquia, comprovado historicamente ter sido um fiel discípulo do Apóstolo São João, diz: "Que todos respeitem os diáconos como a Jesus Cristo, assim como eles devem respeitar o bispo, que é o modelo do Pai, e os presbíteros como o conselho de Deus e o conjunto dos apóstolos. Sem estes, nenhum grupo pode ser chamado de igreja". O santo é claro, não pode haver Igreja sem sacerdócio. O testemunho Cristão Ortodoxo de Santo Inácio claramente confirma um sacerdócio sacramental. Apenas após a Reforma Protestante ele foi negado sistematicamente e quase por completo.
São Paulo, na carta aos Romanos, faz uma declaração incrivelmente sacerdotal, que na maioria das vezes não é corretamente traduzida: "Graça me foi dada por Deus, afim de ser um liturgo (ministro) de Jesus Cristo para as nações, ministrando como um sacerdote (em Grego, hierourgeo) no santo ofício do Evangelho de Deus, para que a oferta (prosphora) das nações possa ser aceitável, santificada no Espírito Santo" (15:15-16). A palavra Grega hierourgeo vem de hiero - estritamente relativo à função ritual de um sacerdote, servindo o altar, fazendo sacrifícios e assim por diante - e ergon - trabalho, ação etc. A palavra é inegavelmente sacerdotal. São Paulo faz uma clara referência de seu próprio ministério como um sacerdote, viajando pelas nações e oferecendo a Liturgia Cristã. Qualquer que continue no Verdadeiro culto Cristão da Liturgia compreende as profundas referências feitas por São Paulo. São João Crisóstomo confirma que São Paulo está falando especificamente sobre seu ministério sacerdotal: "Ele não está a falar simplesmente sobre serviço, como no começo [da epístola aos Romanos], mas da Liturgia e da celebração do sacrifício [da santa comunhão]".
Em ambos os Testamentos há a função sacerdotal geral do povo de Deus e o distinto sacerdócio ordenado que serve diante do altar do Deus Vivo. Um sacerdócio específico e sacramental não nega a natureza do sacerdócio geral de fazer parte do Israel de Deus, e vice-versa. Quando os sacerdotes falham em suas vocações diante de Deus, eles são reprovados severamente e recebem uma punição maior do que o povo de Deus. Por causa da fraqueza, homens que são sacerdotes nem sempre vivem de uma maneira digna de seu ofício, mas isso jamais pode negar a realidade de um sacerdócio ordenado. O ponto fundamental é que o verdadeiro culto ao Deus vivo sempre emprega o sacerdócio. Isso é inegável.
Não há algo como um Cristianismo sem sacerdote, assim como não há uma Igreja sem sacerdote, como explica São Inácio. Existem aqueles que negam o sacerdócio, juntamente com Corá, mas as Escrituras se pronunciaram claramente sobre o fruto de tal negação.
O Pe. é um sacerdote Ortodoxo em Pueblo, Colorado, na Igreja Ortodoxa de São Miguel Arcanjo [2]. Ele escreve no blog The Inkless Pen [3] e é um colaborador regular [4] do Fé Russa.